Polícia

Queiroz comprou mobília de R$ 50 mil, quando estava em SP

Investimento feito em móveis foi cinco vezes maior do que a remuneração como ex-policial.

Documentos anexados à investigação que apura suspeitas de lavagem de dinheiro e peculato no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro mostram que Fabrício Queiroz, o ex-assessor apontado como o operador do esquema, apresentou informações “falsas” às autoridades, de acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ).

Quem lê as petições apensadas ao processo vê um Queiroz que, apesar da rotina de viagens a São Paulo para tratar da saúde, tem uma vida firme no Rio de Janeiro, onde teria endereço fixo, moraria com a família e estaria, inclusive, fazendo reforma em casa.

No dia 5 de julho do ano passado, Queiroz fez uma compra em uma loja de móveis do Jardim Botânico, bairro nobre da zona sul carioca. Não é possível saber se foi de forma presencial ou à distância, por telefone ou internet.

Ele informou morar na rua Frei Luiz Alevato, na Taquara, endereço da zona oeste distante cerca de 30 quilômetros dali – de transporte público, a viagem dura uma hora e meia. A entrega era para outro imóvel no mesmo bairro, na Rua Meringuava, onde hoje ele cumpre prisão domiciliar ao lado da esposa, Márcia Aguiar.

Queiroz comprou mais de 50 mil reais em mobília. A reforma nos quartos custou R$ 24 mil. Para a cozinha, foram R$ 11,4 mil. Mas ele também adquiriu mobiliário para home theater e dois banheiros. O contrato com a loja, obtido pelo G1, aponta que as quantias foram parceladas e pagas parte em dinheiro e parte em boletos.

A entrada foi de R$ 30 mil, mas não é possível saber a forma de quitação. O que se sabe é que, sem o salário que recebia na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Queiroz, dizem os investigadores, teria uma renda oficial de cerca de R$ 11 mil mensais, recebidos por ser policial militar aposentado. Ou seja, a compra total teve valor cerca de cinco vezes maior do que os rendimentos dele.

Dez dias depois da compra, no dia 15 de julho, a defesa de Queiroz prestou informação semelhante ao MP-RJ. Juntou ao processo uma cópia de conta de luz, tendo como junho de 2019 o mês de referência. É apontado o mesmo endereço fornecido na loja de móveis: na Rua Frei Luiz Alevato.

O documento está anexado a um ofício da defesa de Queiroz. É uma resposta a uma cobrança feita pelo Ministério Público, que solicitou formalmente à defesa do ex-policial um endereço fixo, uma condição imposta pelos promotores para que a defesa tivesse acesso aos autos.

Assinado pelo advogado Paulo Klein, o documento diz que Queiroz “reside” na Rua Frei Luiz Alevato ao lado da esposa e das filhas. É feita, no entanto, uma ressalva: por causa de um tratamento de saúde, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro “continua na cidade de São Paulo”, “estando, neste momento, hospedado no Hotel Ibis São Paulo Morumbi”.

Tanto a informação fornecida à loja de imóveis – assim como a presente na conta de luz e no ofício do advogado – são consideradas “falsas” pelo Ministério Público. Uma semana depois de a defesa de Queiroz citar a hospedagem no hotel, o sub-gerente da unidade enviou um e-mail ao MPE-RJ dizendo que “não houve hospedagem da pessoa citada”.

No pedido de prisão de Queiroz, os promotores anexaram provas de que, ao menos desde agosto de 2019, ele já frequentava o imóvel em Atibaia que pertence ao ex-advogado de Flávio e Jair Bolsonaro. Reportagens da TV Globo mostraram mais: há indícios de que Queiroz já estava em Atibaia em dezembro de 2018.

Fontes ouvidas pelo G1 explicaram que fornecer endereço falso é uma estratégia de quem pretende fugir da Justiça em caso de expedição de uma ordem de prisão. Isso porque, estando em local conhecido, a pessoa pode ser surpreendida a qualquer momento, inclusive nos primeiros minutos da manhã, por uma operação surpresa.

Já quem está em endereço incerto, em caso de expedição de um mandado de prisão e de uma operação inesperada, facilmente ficará sabendo da ação policial e pode se evadir – o que fez a esposa de Queiroz, beneficiada posteriormente por um Habeas Corpus visto como juridicamente inusitado.

Para os promotores do caso, houve a adoção de uma “complexa rotina de ocultação de seu paradeiro”. Segundo o MP-RJ, “enquanto sua defesa omitia dos autos seu paradeiro e alegava problemas de saúde que o impediriam de depor, Fabrício Queiroz escondia-se na cidade paulista de Atibaia”.

O advogado Paulo Klein negou que tenha passado informações falsas ao MP-RJ. Disse que, quando foi a São Paulo, encontrou com Queiroz no hotel citado na petição. E afirmou ter ouviu do então cliente que ele estaria hospedado lá – e residindo de forma permanente no Rio, quando não estava em atendimento médico na capital paulista.

O G1 ainda não conseguiu contato com a atual defesa de Fabrício Queiroz.

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